Nos Tempos de Mr. Lee

Mr. Lee
Em 1975 e 1976 existia em Porto Alegre um programa de rádio chamado "Mr. Lee em Concerto". Ia ao ar às dez da noite na histórica Continental AM, frequência 1120, com apresentação de Júlio César Fürst - o "Mr. Lee" em questão. A idéia original era rodar country music, com patrocínio de Lee Jeans. Mas a história começou a mudar quando Júlio foi convidado para ser jurado no festival Musipuc, da PUC-RS. Fascinado com o que viu e ouviu entre os novos talentos gaúchos, o radialista decidiu abrir espaço para músicos locais em seu programa. A segunda meia-hora do "Mr. Lee em Concerto" passou a ser exclusivamente com gravações ao vivo ou feitas no estúdio dois da rádio.

Não era um fato inédito: os Almôndegas já tinham sido lançados pelo programa "Opinião Jovem", patrocinado pelo cursinho pré-vestibular IPV, onde lecionava o professor de português José Fogaça (ele mesmo, hoje ex-Senador), também compositor e amigo do grupo. Mas Júlio foi o primeiro a divulgar material local em larga escala. Numa época em que nem disco independente existia (exceto a investida pioneiríssima de Antônio Adolfo, o "Feito em Casa"), a iniciativa de rodar meia-hora de gravações exclusivas todas as noites acabou furando um bloqueio e criando um movimento. A música do Rio Grande do Sul nunca mais foi a mesma.

Os AlmondegasAlém do programa, "Mr Lee" promovia ainda shows coletivos. Não só em Porto Alegre mas também no interior. E depois de um certo tempo o "Mr. Lee em Concerto" passou a ir ao ar simultaneamente na Rádio Iguaçu, de Curitiba. Em 1976, Luiz Juarez Pinheiro tinha 18 anos. Gaúcho de nascimento, morava no Paraná desde os dois anos. Mas sempre manteve o interesse pela cultura do seu estado. Não perdia um só "Mr. Lee em Concerto". Ele foi uma das seis mil pessoas que assistiram ao show "Vivendo a Vida de Lee" na capital paranaense, no Ginásio do Círculo Militar ("Palácio de Cristal"), surpreendendo aos próprios organizadores com o público maciço.

Mas Luiz Juarez fez mais do que apenas ver e ouvir: com um pequeno gravador portátil, ele gravou vários programas. E manteve suas fitas bem guardadas por todos esses anos. Em um grupo de discussão sobre música, acabamos fazendo contato e ele gentilmente me disponibilizou nada menos do que quatro CD-Rs com suas raridades. Foi uma viagem no tempo.

Convite para a estréia.Luiz Juarez imaginava, como eu também, que mais gente tivesse esses registros em suas coleções. Em especial os protagonistas, como o radialista e os músicos, deviam ter aquelas gravações até com melhor qualidade. Estávamos errados. Aparentemente, ninguém mais gravou nada daquilo. O compositor Nelson Coelho de Castro ficou sabendo do material por um amigo comum, o jornalista Artur Gayer, e me ligou entusiasmadíssimo. Aproveitou para me convidar para participar do programa "Roda Som", na Cultura FM, com apresentação dele, do músico Bebeto Alves e do crítico Juarez Fonseca. Com o aval do verdadeiro herói da história - Luiz Juarez Pinheiro, a quem dei o devido crédito no ar - acabei participando não de um, mas de dois programas.

No meio do primeiro programa, recebemos o telefonema de Francisco Anele Filho, ex-operador da Rádio Continental, que foi quem fez as gravações originais que "Mr. Lee" rodava. Por telefone mesmo, ele mostrou um trecho de "Anos 70", do grupo Utopia, de Bebeto Alves. Tocou também "Magricela", de Nelson Coelho de Castro. Fugindo um pouco do assunto, para mostrar as relíquias do seu arquivo, Anele rodou ainda a íntegra de uma edição extraordinária do noticioso "1120 é Notícia", sobre a morte de Jorge Mautner. Não se assuste: era apenas uma "barriga" que foi ao ar em março de 1975 (a data fui eu quem lembrou). Quando um jornal loca! descobriu que o redator da Rádio Continental passava lá todos os dias para "chupar" notícias do telex, alguém teclou a notícia falsa em modo local e o trote colou. Mas foi emocionante ouvir de novo aquele texto comovente. "O relógio quebrou..." De qualquer forma, já sabemos quem tem as fitas originais com boa qualidade. O dia em que pintar um Marcelo Fróes ou um Charles Gavin na casa do Anele, não vai sobrar pedra sobre pedra.

Hermes Aquino E Mr. LeeInfelizmente, não houve tempo para rodar todas as preciosidades enviadas pelo Luiz Juarez. Mas o importante é que elas estão salvas e bem guardadas. Lá se encontram, por exemplo três gravações dos Almôndegas: "Alhos com Bugalhos", "Piquete do Caveira" e "Testamento". As duas primeiras viriam a ser lançadas em disco, embora "Alhos" perdesse o arranjo de assobios no final. A terceira, de Fogaça, continua inédita. (Os Almôndegas gravaram na Continental também "Teiniaguá" e "Aqui", igualmente nunca lançadas, mas essas o Luiz Juarez não chegou a registrar.) "Mr Lee" anuncia "Desencontro de Primavera", com Hermes Aquino, dizendo que "amanhã o Brasil todo vai cantar". E foi exatamente isso que aconteceu em 1977, quando a música entrou na novela "As Loco-Motivas" (pra quem não lembra é aquela que começa assim: "uma andorinha no céu passou e disse...").

O mesmo Hermes canta "Sem Eira Nem Beira", que depois virou "Longas Conversas" e teve a palavra "beber" substituída por "viver". Lembram do Joe, que cantava "Já Fui" e "Me Leva Pra Casa"? Em Porto Alegre ele era conhecido como Zezinho Athanásio. Do seu ex-grupo Simbiose, rodamos a linda "Flor de Klô". O material inclui ainda várias gravações de Fernando Ribeiro, Zé Flávio (ainda no Mantra, antes de entrar para os Almôndegas), Hallai Hallai, Gilberto Travi & o Cálculo IV, Inconsciente Coletivo, Byzarro, Bobo da Corte, João Schuh e outros.

AlmondegasNada dura para sempre, mas o "Mr. Lee em Concerto" jamais poderia ter acabado no final de 1976. O movimento estava no auge, ainda mais depois das seis mil pessoas em Curitiba, e teria fôlego para continuar por pelo menos mais um ano. Fernando Ribeiro e Hermes Aquino, por exemplo, só lançariam seus primeiros LPs no começo de 77. Infelizmente, com a perda do patrocínio da Lee, Júlio Fürst interrompeu o belo trabalho de divulgação que vinha fazendo. Voltou um mês depois como "Mestre Júlio", às seis da tarde, mas não era mais a mesma proposta. Todos ficamos um pouco órfãos com o final do "Mr. Lee em Concerto" e dos shows "Vivendo a Vida de Lee". Ainda bem que pelo menos um ouvinte teve a visão de gravar alguns programas.

>>>Por Emílio Pacheco.


>>>Publicado originalmente no International Magazine Ed. 90.



Pequena biografia de algumas bandas participantes:


- Inconsciente Coletivo: banda que misturava folk e mpb num formato “Peter – Paul – Mary “, com João Antônio (atualmente dono do Abbey Road, uma das principais casas de shows musicais de Porto Alegre, na qual é sócio de Júlio Fürst), Alexandre (um dos proprietários do Sargent Peppers, outra casa noturna importante da cidade) e a (psicóloga) Ângela. Um som suave, com violas e vocais, bem legal, em que se destacavam as músicas “Voando Alto” e “Terras Estranhas”, gravadas em um compacto lançado em 77 pela gravadora carioca Tapecar.

- Bizarro (posteriormente Byzarro): banda de rock progressivo, hard rock, jazz e o que mais pintasse. Criada nos anos 60 sob a alcunha de Prosexo, contou em sua formação com Carlinhos Tatsch (guitarra), Gélson Schneider (baterista, que posteriormente pertenceu às bandas Trovão, Swing e Câmbio Negro), Mário Monteiro (baixo) / Mitch Marini (baixista que também integrou as bandas mencionadas de Gélson). Fizeram vários shows em dobradinha com o Bixo da Seda. Destacam-se no repertório “Sombras” e “Betelgeus Star”.

- Bobo da Corte: na época do Mr. Lee, a banda tinha na formação Zé Vicente Brizola (filho do próprio e fundador do Bixo da Seda), Gatinha (bateria, posteriormente atuou no Saracura em sua fase inicial), Chaminé (baixo, depois Saracura) e Otavinho (guitarra). Fughetti Luz chegou a participar de uma das formações desta banda, antes de entrar para o Bixo. Rock direto levemente hard, numa levada bem juvenil, sendo de destacar “Genial Colegial”.

- Almôndegas: Banda seminal da música gaúcha dos anos 70, da qual participavam Kleiton e Kledir, e, ainda, Quico Castro Neves, Gilnei Silveira e Pery Souza. Depois, saíram os três últimos e entraram Zé Flávio, João Baptista e no finzinho (79) Fernando Pezão, este na bateria. Transitava pelo rock, bossa nova, milongas, temas regionais do Sul, Mpb e o que mais pintasse, com ótimas letras. Destaque para a "Canção da Meia-Noite", que foi trilha da novela Saramandaia da Rede Globo, e "Rock E Sombra Fresca no Quintal" (ambas do genial guitarrista Zé Flávio).

- Hallai-Hallai: banda de country/folk rock, num estilo bem acústico, fazia um som muito legal, contava com Necão e Paulinho, entre outros membros que foram se revezando, sendo que em 1987, com Jorge Vargas no baixo, gravou um disco pela gravadora 3M, intitulando-se apenas como Hallai. Em destaque, as músicas “Cowboy” e “Quando Viajar Pro Norte” (esta de Fernando Ribeiro).

- Zé Flávio e o Mantra (posteriormente Mantra Jazz Rock circus): Banda capitaneada pelo guitarrista Zé Flávio, o qual, antes de monta-la, participou da banda-show Em palpos de Aranha, que também chegou a se apresentar em show do Mr. Lee (a Em palpos era Zé, Cláudio Levitan, Graça Magliani, Giba-Giba e Néri). O Mantra era formado ainda por Inácio (baixo), Fernando Pezão (bateria, também da banda instrumental Zacarias, que participou do Mr. Lee, posteriormente integrante dos Almôndegas, Saracura e atualmente nos Papas da Língua), e Jakka (percussão). Transitando entre o rock, o blues, a mpb, o tango, entre outras milongas, sempre com uma pitada “latina” a la Carlos Santana, fazia um som bem lisérgico e com muita energia. Destaque para “Dói Em Mim” e “A Margarida do Brejo”. A banda terminou quando Zé foi convidado para integrar os Almôndegas em 77, mudando-se para o Rio de Janeiro.

- Élbia: cantora que fez parcerias com o jornalista, radialista e músico Jimi Joe, apresentou-se no último show do Mr. Lee, realizado no Teatro Leopoldina, em 76, tinha uma música maravilhosa, que não deixava nada a desejar em relação à Rita Lee da fase Tutty Frutti, chamada “Como Meu Quociente de Pureza Se Manifestou Diante da Sociedade”.

- Gilberto Travi e o Cálculo IV: MPB com pitadas de Jazz e blues, com letras inteligentes e provocativas, nas quais eram utilizadas muitas das gírias dos anos 70, com um especial sotaque portoalegrense. Participou em todos os shows do Mr. Lee. Gilberto chegou a ser convidado por Liminha para gravar um compacto pela Warner, que havia se separado da Gravadora Continental, na época, e estava criando o seu cast, o que só não rolou em face da falta de garantias financeiras mais sólidas, além da exigência de que abandonasse a banda que sempre o acompanhou. Posteriormente, junto com o próprio Júlio Fürst, com Beto Roncaferro, e com João Antônio, formou os Discocuecas, banda impagável de “gozação” e “tiração de sarro”, na qual restou muito bem canalizada a face humorística que Gilberto também explora como compositor e performer. Em sua faceta “séria” destaca-se, no repertório de Gilberto Travi e o Cálculo IV, “Poluição” e “Pretensão”.

- Hermes Aquino: sensacional cantor e compositor, traçava o que viesse, do blues/rock à guarânia. Em sua fase tropicalista, nos anos 60, foi para São Paulo e orbitou em torno dos poetas concretistas, junto com sua prima Laís Marques e com Carlinhos Hartlieb, fechando parcerias com Tom Zé e o grupo o Bando. Depois voltou para o Sul e foi um dos principais nomes dos shows do Mr. Lee. Em face desta visibilidade, gravou pela Tapecar as músicas "Nuvem Passageira" e "Matchu Pitchu", sendo que a primeira foi trilha da novela Casarão, primeiro lugar nas paradas de sucesso nacionais. Desentendendo-se posteriormente com a gravadora Capitol, que lançou seu segundo LP, recolhendo-se infelizmente em ostracismo em sua casa em Porto Alegre, o que vigora até hoje, para a tristeza de seus fãs.


- Fernando Ribeiro: morreu em 10 de agosto de 2006, suas músicas geralmente eram apresentadas com a observação "poeta do Porto", mas quem fazia as letras mesmo era o seu parceiro Arnaldo Sisson. Fernando foi contratado pela EMI e, em suas viagens a São Paulo para gravar o primeiro LP, ligava para a rádio e entrava no ar, no Mr. Lee em Concerto, contando como haviam sido as sessões. Pouquíssimos músicos gaúchos promovidos por Mr. Lee conseguiram lançar LP e Fernando foi o único que teve a gravação divulgada passo a passo para os ouvintes. "Em Mar Aberto" é uma obra-prima de MPB, um disco praticamente perfeito. A produção que a gravadora lhe proporcionou foi digna de um astro. Ali estão jóias como "Ultimamente", "Não Demora", "Hora Imprópria" e "Estado de Espírito". Coincidência ou não, a EMI viria a publicar um anúncio institucional de página inteira com a frase: "Eu quero um estado de espírito!" Tudo indicava que Fernando teria uma bela carreira pela frente, ainda mais com o apoio de uma major.

Mas o mundo deu voltas. A gravadora gaúcha ISAEC, que até então apenas terceirizava seus estúdios, resolveu lançar-se como um selo. Contagiado por um idealismo bairrista, Fernando deixou a EMI para prestigiar a gravadora local. O problema é que a ISAEC tinha algumas deficiências típicas de uma gravadora pequena. O resultado é que o segundo LP de Fernando Ribeiro, "O Coro dos Perdidos", não teve a mesma qualidade de produção do anterior.

Em 1979, Fernando Ribeiro mudou-se para São Paulo e passou a trabalhar no Estúdio Vice-Versa, praticamente abandonando sua carreira de artista. A parceria com Arnaldo Sisson nunca mais foi retomada. Em 1988, o produtor cultural Luciano Alabarse trouxe Fernando a Porto Alegre para um show nostálgico, apenas para matar a saudade. Foi talvez a sua última apresentação. Já há algum tempo, Fernando enfrentava problemas cardíacos e respiratórios. Faleceu em São Paulo, no Instituto do Coração, aos 56 anos.

- Utopia: Trio acústico à base de dois violões de aço (um deles de doze cordas) e violino, liderado por Bebeto Alves, contando também com os irmãos Ricardo e Ronald Frota. Difícil de classificar o seu som, feito de “viagens sonoras” típicas dos anos 70, com muito improviso e músicas intermináveis, seu estilo era mais ou menos “psicodélico-acústico-progressivo”, com pitadas de jazz cigano. Desmanchou-se em 76 e lá por 78 teve nova formação, bem maior, e com uma proposta ligeiramente diferente da original, com Bebeto, Ricardo, Cao Trein, Zé Henrique Campani (que também foi dos grupos Emergência e Metamorfose, que participaram de shows do Mr. Lee) e até de Nico Nicolaiéwsky (passagem rápida), dentre outros. Lá por 79 Bebeto começou sua carreira solo.


Quem é JÚLIO CEZAR FÜRST

JÚLIO CEZAR FÜRSTNascido em 8 de outubro de 1949, Júlio Fürst tem 32 anos de carreira no rádio. Sempre teve uma forte ligação com a música. Começou a tocar bateria com 14 anos na banda The Rockets, que tinha uma forte influência dos Beatles. Em 1972, Júlio possuía uma loja de discos, no bairro Moinhos de Vento. Um dos seus clientes mais freqüentes o convidou para trabalhar em uma rádio, devido ao seu grande conhecimento musical. A indicação era para a rádio Pampa AM, na qual realizou um teste e entrou para a equipe.

A proposta da rádio era de uma programação voltada para o público jovem, fazendo frente à rádio Continental, até então a maior audiência neste tipo de segmento. Fürst trouxe para a Pampa muitas inovações, entre elas, tocar músicas de seis minutos, e, na era do rock progressivo, as de 10 e 11 minutos, considerando que naquele tempo só se tocavam faixas de, no máximo, 3 minutos. Outra das suas criações foi o programa Soul Power, que começava às 11 horas da noite. Ele “incorporava” o personagem Julius Brown, o rei da black music. Após um ano na Pampa, recebeu o convite da Continental em 1973, na qual ficou até o final dos anos 70. Para ele, a Continental foi um divisor de águas devido a sua programação diferenciada do que havia no rádio brasileiro, pois tinha uma postura totalmente jovem. Trouxe seu personagem Julius Brown para a rádio, mudando o horário para as 10 horas noite.

Em abril de 1975, colocou no ar o personagem Mister Lee, um cowboy vestido de calça Lee. Esta marca estava entrando no mercado brasileiro.

Paralelo a isto, Fürst foi integrante do famoso conjunto humorístico Discocuecas, como baterista. O grupo fez sucesso nacionalmente, realizando diversos shows pelo país. Durou 20 anos.

Foram gravados quatro discos, e em 1997, foi gravado seu último registro, logo em seguida foi anunciado o término da banda. Em fevereiro de 1980, a convite de Pedro Sirotsky, que comandava a rede naquela época, foi para a RBS fazer parte da equipe que colocou no ar a rede Atlântida FM, permanecendo até 1984. Após isto, passou pela Rádio Cidade, Jornal do Brasil, Universal FM, Rádio Gaúcha e Band FM, na qual ficou até o final dos anos 80. No início dos anos 90, regressou para a RBS para a rádio 102 FM. Hoje é o coordenador e apresentador da Rádio Itapema FM. E junto com João Antônio Araújo toca a casa de shows Abbey Road na grande Porto Alegre.

Clique aqui e leia uma entrevista sensacional com Julio Fürst.



Abaixo os 4 registros raríssimos para download:


CD 01 (50,80 MB)




CD 02 (61,32)




CD 03 (56,20 MB)




CD 04 (61,23 MB)





Belle & Sebastian

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A história do Belle & Sebastian é, no mínimo, fascinante. Um grupo de estudantes que, sem pretensão qualquer, virou febre no mundo alternativo. Hoje o culto pode até estar batido, mas há três anos, o mais cool que você podia ser era ser fã do Belle & Sebastian. Afinal, eles não davam shows, muito menos entrevistas, seus discos eram raros. Bem, o culto continua, hoje em dia, agora mais pelo som maravilhoso que estes escoceses fazem.

Stuart Murdoch (violão e voz) começou a compor no início dos anos 90. Ele sempre gostou de escrever contos e letras, principalmente no tempo da faculdade, em Glasgow (Escócia). No final do curso, em 1995, inspirado pelas aulas de produção musical e marketing, o compositor decidiu que sua monografia seria sobre a formação de uma banda.


Para executar a tarefa, recrutou alguns amigos e conhecidos, também universitários, com os quais tomava café em um bar local. Entre eles estavam: Isobel Campbell (violoncelo), Stevie Jackson (guitarra, violão e gaita), Stuart David (baixo), Sarah Martin (violino), Richard Colburn (bateria) e Chris Geddes (teclados).

E, assim, começava a se formar o Belle & Sebastian, nome tirado de um seriado infantil dos anos 70, inspirado num romance francês chamado “Belle et Sébastien”, de Madame Cécile Aubry, sobre as aventuras de um garoto, Sébastien, e sua cadela, Belle. A primeira idéia era de que a banda produziria um ou dois discos e depois encerraria suas atividades musicais.

Todo ano, a Stow College Music Business Course, oficina de música em Glasgow freqüentada por Murdoch, David e outros integrantes do Belle & Sebastian, produzia, pela Eletric Honey Records, um compacto com composições de alguns alunos. Em 1996, a dupla Stuart David e Stuart Murdoch, que já havia formado uma banda anteriormente, a Rhode Island, fora escolhida para fazer a gravação, mas eles tinham repertório não só para um compacto, mas para um álbum inteiro. Assim, em Janeiro de 1996, os dois Stuarts ganham autorização para gravar algumas demos, a maioria composta por Murdoch. Antes de entrar em estúdio, a dupla foi atrás dos outros integrantes que já haviam recrutado entre amigos, conhecidos, e, dizem, até entre pessoas desconhecidas com o olhar melancólico e distante.

Em apenas três dias é realizado o primeiro trabalho do Belle & Sebastian, Tigermilk, para poucas pessoas. Mil cópias, todas em vinil, o que torna essa edição uma raridade imperdível, que só podiam ser compradas pelo correio, por abusivas 400 libras. Mesmo assim, a tiragem inicial foi vendida rapidamente, pois já existia um certo culto em torno da misteriosa banda. O álbum trazia, em sua capa monocromática cinza, uma garota amamentando um tigre de pelúcia. Dentre as influências, bandas dos anos 80, como Felt, The Smiths e Pale Fountains. Os temas das letras, geralmente pequenos contos ou historinhas urbanas, eram angústia, solidão, amor, simplicidade, arrependimento, sempre regados com muito lirismo e delicadeza.

A crítica inglesa passou a endeusá-los, mas ninguém conseguia imagens ou entrevistas da banda, o que aumentou ainda mais o culto. Os escoceses receberam inúmeras propostas de gravadoras grandes, mas, com medo de perder a liberdade criativa, assinaram com a pequena Jeepster.

Rádios e jornais como o NME começaram a apoiá-los. A revista Les Inrockuptibles, elegera o B & S como a banda do ano. Com tanto culto, foram ganhando cada vez mais fãs tanto nos Estados Unidos como na Europa.

Em novembro de 1996, o Belle & Sebastian lança If You’re Felling Sinister, seu segundo trabalho, que novamente trazia uma capa monocromática (desta vez em vermelho), com uma garota sentada, olhando para o nada, com um livro ao lado. O amadurecimento da banda é perceptível em canções melhores estruturadas. Os temas continuam a retratar a solidão (ou a juventude solitária). O reconhecimento foi imediato, e o culto em torno do grupo crescia. Enquanto isso, eles compunham mais e mais.

Felizmente, a idéia de acabar após dois discos não vingou. Após If You’re Feeling Sinister, o Belle & Sebastian lançou três singles, com músicas inéditas, em um período de apenas cinco meses. São eles: Dog on Wheels, Lazy Line Painter Jane e 3..6..9 Seconds of Light, que em 2000 foram reunidos em uma caixa, a Lazy Line Painter Jane.

Mais um álbum, com uma capa monocromática em verde trazendo um rapaz atravessado por uma lança, é colocado no mercado em setembro de 1998. O nome dele é The Boy With the Arab Strap. Muda a autoconfiança do grupo, que começa a apostar em novos modos de composição.

A violoncelista Isobel Campbell e o guitarrista Stevie Jackson se arriscam nos vocais. Stuart David apresenta “A Space Boy Dream”, com um estilo totalmente diferente do Belle & Sebastian. As letras continuam a contar pequenos enredos, sempre sobre angústia, amor, entre outros. O álbum é elogiadíssimo, reforçando o caráter “cult” que agora, de uma vez por todas, contaminava a banda. Em dezembro do mesmo ano, o grupo lança mais um EP com inéditas, This Is Just A Modern Rock Song.

O grupo pára um pouco para se dedicar a projetos paralelos. No início de 1999, Stuart David lança Up A Tree, de seu projeto Looper, que pode ser descrito como um Belle & Sebastian eletrônico e mais alegre. O álbum ainda contém uma declaração de amor do baixista a sua esposa no encarte, que conta como os dois se conheceram. Isobel Campbell também monta a sua banda, a Gentle Waves, destacando a doçura de sua voz. Em 2001, a violoncelista gravou um disco no qual interpreta músicas da cantora Billie Holiday.

A banda recebe convites para tocar em famosos festivais na Europa, mas a resposta é “não”, pois decide fazer seu próprio festival, The Bowlie Weekender. Em 1999, o B&S também recebe o grande reconhecimento pelo seu trabalho, o prêmio de revelação no Brit Awards, disputando com bandas mais famosas e de gravadores muito maiores que a Jeepster. A premiação foi graças aos fãs da banda, participantes da Sinister Mailing List, que se uniram e votaram pela internet. Apesar da justa vitória, muitos pensaram que o B&S havia "roubado" o prêmio, em razão de ter concorrido com grupos de maior escalão.

O ano de 2000 começa em baixa com a saída de Stuart David, que deixa o grupo justificando que o Belle & Sebastian estava ocupando demais a sua vida. O baixista parte para investir no seu lado de escritor e também para tocar o seu projeto Looper. Mesmo assim, David ficou na banda até o final das gravações do quarto álbum, Fold Your Hand Child, You Walk Like a Peasant, que trazia duas garotas na capa monocromática (em amarelo) olhando-se como se fossem uma pessoa só, em um espelho.

A banda perde um componente, mas ganha outro, Mick Cooke (trompete), que entra um pouco antes da saída de David. No mês anterior a Fold Your Hands..., o Belle & Sebastian lança, mais uma vez, um single com inéditas, Legal Man, que conquistou algumas posições nas paradas.

A banda pára mais uma vez. Isso permite o aparecimento de bootlegs raros, como um que reunia as apresentações do grupo na BBC e outro que registrava a gravação de um show para a TV, numa noite parisiense, intitulado Black Sessions.

Em outubro de 2000, um grande presente para os brasileiros. A gravadora Trama lança, de uma vez só, os quatro álbuns do Belle & Sebastian no Brasil. Um deleite para os fãs brasileiros, que antes precisavam pagar uma fortuna em cópias importadas. O lançamento nacional também permitiu que quem nunca ouvira falar da banda pudesse conhecer os seus trabalhos. O sucesso de vendas no Brasil foi tão espetacular que, em 2001, a Trama colocou à venda todos os EPs do grupo, em versão nacional. Single é uma coisa muito difícil de se ver no Brasil, mas o Belle & Sebastian conseguiu fazer com que isso se realizasse.

O Brasil se emparelha com o exterior em termos de lançamentos de discos. Em junho de 2001, o Belle & Sebastian reaparece com um novo single, Sing... Jonathan David. Aqui, o EP é lançado alguns dias depois. Aparece um substituto para Stuart David, o baixista Bob Kildea, que estréia no novo trabalho até na capa (Bob é o que está na frente, de cabelos compridos). O grupo também faz a trilha sonora do filme "Histórias Proibidas" (Storytelling), de Todd Solondz.

Mais boas notícias para os fãs brasileiros. Em julho de 2001, é confirmada a presença do Belle & Sebastian no País. Eles vieram no final de outubro para o Free Jazz Festival , realizando o sonho de muitos fãs. Para os shows em São Paulo, os ingressos se esgotaram em apenas quatro dias, demonstrando a popularidade do grupo em terras tupiniquins. As apresentações provaram ainda mais a fama: tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, a banda foi aclamada por crítica e público.

No começo de dezembro de 2001, mais um EP chega ao Brasil, quase ao mesmo tempo em que é lançado lá fora, reafirmando a popularidade do Belle & Sebastian em nosso País, ainda mais após o Free Jazz Festival. I'm Waking Up To Us traz na capa Sarah Martin, a violinista do grupo, com o seu cão Beagle na janela de um carro.

Em março de 2002, a banda termina as gravações do álbum Storytelling, com músicas que fazem parte da trilha sonora "tardia" do filme de mesmo nome, "Histórias Proibidas" (Storytelling, EUA, 2001), de Todd Solondz. O CD é lançado em todo o mundo na primeira semana do mês de junho e traz em uma capa vermelha, duas garotas chinesas. A banda não fica totalmente satisfeita com o projeto, que dá pouco destaque ao seu trabalho.

Em 2002, o Belle and Sebastian faz shows pela Europa e Estados Unidos. No meio da turnê dos Estados Unidos, a vocalista Isobel deixou o grupo e resolveu seguir uma carreira solo, que parece ser muito mais eclética e estranha do que sua ex-banda. Ainda nesse ano, A Jeepster cancelou o contrato com o septeto, que passou a procurar por novo selo. Assinam com a Rough Trade/Sanctuary. Em troca, o Belle and Sebastian deixou nas mãos da Jeepster o direito de lançar um DVD.

No final de 2003, saiu o quinto álbum (ou sexto, se contarmos a trilha sonora), Dear Catastrophe Waitress. Em janeiro de 2004, a Jeepster lançou o DVD Fans Only, que cobre a carreira do Belle and Sebastian desde a época do "If You're Feeling Sinister" até o "Storytelling". A compilação ficou a cargo de Blair Young, e conta com entrevistas, partes de shows, bastidores, vídeos do início da mística carreira e aparições na TV.

Em 2005, é lançada a coletânea Push Barman to Open Old Wounds, um álbum duplo contendo todas as músicas lançadas em EPs, e no começo de 2006 é lançado novo LP, The Life Pursuit, que dá sequência a influência da música dos anos 70 iniciada em "Dear Catastrophe Waitress".

A carreira do Belle & Sebastian se resume em muita música feita em um curto intervalo de tempo: seis anos, cinco álbuns e sete singles.




Formação:

Stuart Murdoch: Vocais e guitarra
Stevie Jackson: Guitarra e vocais
Richard Colburn: Bateria
Mick Cooke: Trompete e guitarra
Sarah Martin: Violino e vocais
Chris Geddes: Teclados e piano
Bob Kildea: Baixo e guitarra

Stuart David: Baixo (até 2000)
Isobel Campbell: Violoncelo e vocais (até 2002)



DISCOGRAFIA:
• Tigermilk, 1995
• If You're Feeling Sinister, 1996
• The Boy with the Arab Strap, 1998
• Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant, 2000
• Storytelling, 2002
• Dear Catastrophe Waitress, 2003
• If You're Feeling Sinister: Live at the Barbican, 2005
• The Life Pursuit, 2006

Singles & EPs
• Dog on Wheels, 1997
• Lazy Line Painter Jane, 1997
• 3.. 6.. 9.. Seconds of Light, 1997
• This Is Just a Modern Rock Song, 1998
• Legal Man, 2000
• Jonathan David, 2001
• I'm Waking Up to Us, 2001
• Step Into My Office, Baby, 2003
• I'm a Cuckoo, 2004
• Books EP, 2004
• Funny Little Frog, 2006
• The Blues Are Still Blue, 2006
• The White Collar Boy, 2006

Coletâneas
• Lazy Line Painter Jane (box com os três primeiros EPs), 2000
• Push Barman to Open Old Wounds (duplo com os EPs lançados pela Jeepster), 2005

DVDs
• Fans Only, 2003
• Step Into My Office Baby - I'm a Cucckoo - Wraped Up In Books (Brasil), 2005





Abaixo a discografia da banda para download:

Tigermilk (1996)


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01. State I Am In
02. Expectations
03. She's Losing It
04. You're Just a Baby
05. Electronic Renaissance
06. I Could Be Dreaming
07. We Rule the School
08. My Wandering Days Are Over
09. I Don't Love Anyone
10. Mary Jo

If You're Feeling Sinister (1996)


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01. The Stars Of Track And Field
02. Seeing Other People
03. Me And The Major
04. Like Dylan In The Movies
05. The Fox In The Snow
06. Get Me Away From Here, I'm Dying
07. If You're Feeling Sinister
08. Mayfly
09. The Boy Done Wrong Again
10. Judy And The Dream Of Horses

Dog On Wheels (EP) (1997)


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01. Dog on Wheels
02. State I Am In
03. String Bean Jean
04. Belle & Sebastian

Lazy Line Painter Jane (EP) (1997)


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01. Lazy Line Painter Jane
02. You Made Me Forget My Dreams
03. Photo Jenny
04. Century of Elvis

3..6..9 Seconds Of Light (EP) (1997)

3..6..9 Seconds Of Light
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01. Century of Fakers
02. Pastie de la Bourgeoisie
03. Beautiful
04. Put the Book Back on the Shelf









The Boy With The Arab Strap (1998)

The Boy With The Arab Strap
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This Is Just A Modern Rock Song (EP) (1998)

This Is Just A Modern Rock Song
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Legal Man (EP) (2000)

Legal Man
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Fold Your Hands Child, You Walk Like A Peasant (2000)

Fold Your Hands Child, You Walk Like A Peasant
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I'm Waking Up To Us (EP) (2001)

I'm Waking Up To Us
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Jonathan David (EP) (2001)

Jonathan David
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Storytelling (2002)

Storytelling
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Step Into My Office, Baby (EP) (2003)

Step Into My Office, Baby
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Dear Catastrophe Waitress (2003)

Dear Catastrophe Waitress
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DOWNLOAD pt 2

I'm A Cuckoo (EP) (2004)

I'm A Cuckoo
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Books (EP) (2004)

Books
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The Life Pursuit (2006)

The Life Pursuit
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Funny Little Frog (EP) (2006)

Funny Little Frog
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The Blues Are Still Blue (EP)
(2006)

The Blues Are Still Blue
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White Collar Boy (EP) (2006)


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